ARQUIVO FIQUE SABENDO: Cruzex 2010
Entre
os dias 4 e 15 de novembro, a Base Aérea de Natal mais uma vez será
sede do exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX). Para este ano são
esperadas delegações do Brasil, Argentina, Canadá, Chile,
Colômbia, Equador, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela. A
expectativa é que a CRUZEX 2013 reúna mais de 90 aeronaves. Entre
os caças, devem estar presentes modelos F-5M, A-1, F-2000, F-16
(EUA, Chile e Venezuela), A-4 (Argentina), A-29 (Brasil e Equador),
IA-58 (Uruguai) e A-37 (Colômbia e Uruguai). O Canadá deverá
participar com um avião CC-130J. Outra estreia será a dos
helicópteros AH-2 Sabre da Força Aérea Brasileira. Todas as
aeronaves de combate deverão operar a partir da Base Aérea de
Natal. Recife receberá os modelos de transporte e reabastecimento em
voo.
Para
falar como poderá ser a Cruzex Flight 2013 primeiro devemos explicar
o que seria este tipo de exercício e o seu histórico. A Cruzex é
um exercício internacional que simula um conflito armado entre
Estados fronteiriços, que devido ao direito internacional, se fez
necessário a intervenção de uma força de paz para o cessar-fogo,
o processo de “peace enforcement”. De uma lado estariam as Forças
de Vermelho (inimigo, FAB) e de outro as Forças de Azul (coalização,
FAB e as Forças Convidadas). A ideia da Cruzex surgiu após a
participação do Brasil como observador, em 2000, do exercício
Odax, realizado na França. Mas o contexto que culminou com a criação
da Cruzex remota as areias do deserto do Golfo Pérsico, pelo idos de
1991. A
crise internacional gerada pela invasão do Kuwait pelo Iraque levou
o Conselho de Segurança da ONU(quem verdadeiramente manda em alguma
coisa por lá) a autorizar uma Força Multinacional de Imposição da
Paz. Em uma operação bem orquestrada entre as Forças Armadas do
países da Coalização a invasão foi repelida e a ordem
restabelecida. Destacou-se porém a forma com que o Poder Aéreo foi
empregado, seguindo a Doutrina da OTAN; ataques de precisão
coordenados destruíram o C² (Centro de Comando e Controle)
Iraquiano. Pacotes aéreos saturaram as defesas aéreas e antiaéreas
iraquianas, a superioridade aérea alcançada maximizou a
superioridade das Forças Terrestres e do Poder Naval e o uso das
novas tecnologias permitiram a criação de um novo conceito o NCW.
Tudo isso a olhos vistos da população, a partir da mídia enviada
ao TO (Teatro de Operações) que, em tempo quase real, viam onde,
quando e como as ações ocorriam. Mas não acabou por aí. O
conflito étnico e político da região dos Balcãs, originário da
desintegração do Bloco Socialista (sob o meu ponto de vista a URSS
e seus aliados não alcançaram o patamar do Comunismo, ficando no
estágio socialista) do Leste Europeu, foi/é outro marco que levou a
criação do Exercício, mas com efeitos diferentes daqueles
produzidos pela Desert Shield/Desert Storm. Na Desert Shield/Desert
Storm os objetivos políticos e militares eram bem definidos e os
apoios internacional e internos eram fortes. Já na campanha dos
Bálcãs o cenário era bem diferente. A batuta ficou sob a
responsabilidade da OTAN (91, da ONU), com sua Doutrina novamente,
visto a divisão entre os atores internacionais sobre a intervenção
ou não-intervenção no conflito (a Rússia via aquela região sob
sua zona de influência e mostrava-se relutante na interferência da
mesma; alguns líderes europeus viam-se incomodados por tamanha
agressão aos direitos humanos ocorrerem no “mesmo quarteirão”,
mas ao mesmo tempo não podiam arcar com o custo político-financeiro
da operação) gerando objetivos políticos difusos e pouco
consoantes com os objetivos militares (as regras de engajamento eram
tão complexas que praticamente impediam o uso da força). Ainda que
possuindo diversas restrições atmosféricas, de regras de
engajamento e quanto ao terreno, o Poder Aéreo foi um das formas
mais efetivas de impedir/retaliar as ações genocidas do conflito.
Ambos os conflitos serviram para ilustrar e provar o novo
cenário/nova ordem mundial que se desenvolveu após a Guerra Fria.
Um mundo multipolar, regionalmente dividido (UE, Mercosul, NAFTA,
Tigres Asiáticos, etc.), com uma superpotência hegemônica (EUA) e
com a eclosão de diversos conflitos regionais de baixa e média
intensidade (Sudão, Oriente Médio, Iraque, Bálcãs, entre outros).
Nesse cenário surgiram algumas perguntas: “Estaria o Brasil (FAB)
preparado para esse novo cenário mundial? Qual seria o resultado se
o Brasil (FAB) se envolvesse num conflito desses? Haveria alguma
forma do Brasil (FAB) se preparar para um evento desses?” Para
responder a essas e outras questões surgiu a Cruzex. Até a presente
data foram realizadas 6 operações Cruzex, em 3 regiões
brasileiras, com 13 países participantes e outros países como
observadores. A primeira edição foi realizada em Canoas
(2002),
nessa edição ficou marcante o “gap” brasileiro diante de
modernos equipamentos e táticas de combate (leia-se combate BVR e
C²) e as dificuldades com a meteorologia e tráfego aéreo roubaram
um pouco o brilho, mas nessa época a FAB era uma Força em franca
modernização e os ensinamentos colhidos foram prontamente passados
aos programas de aquisição e modernização de meios. Na segunda
edição, Natal
(2004),
a FAB já havia amadurecido no ambiente de planejamento e algumas
táticas para se contrapor a equipamentos mais modernos já haviam
sido estudadas e disseminadas entre os esquadrões, gerando
resultados melhores. Nessa edição da Cruzex ainda dominava um
perfil mais tático que o atual de C² e Flight. Na terceira edição,
em Anápolis
(2006),
a FAB era uma instituição completamente diferente (meios,
treinamento e pessoal), nessa edição a Força Vermelha(FAB)
infligiu consideráveis danos à Força de Azul (Coalizão)
conseguindo alguns abates simulados importantes. Mas pelo caráter de
C² que já se delineava, as Forças de Coalização “venceram” a
simulação. Outra importante característica que ficou mais presente
foi a importância que a FAB passou a dar a Comunicação Social, nas
outras edições a FAB permitiu e até convidou alguns jornalistas
especializados a cobrirem o evento, mas na edição de 2006 em
diante, a postura mudou significativamente para melhor. A quarta
edição, Natal
(2008),
foi marcada muito positivamente pelo sucesso no então recente
exercício realizado nos EUA, o Red Flag 08-03. Naquele RedFlag, um
dos mais exigentes/reais exercícios aéreos do mundo, o Brasil
participou com o 1º/14º GAv e o 2º/2º GT e seus meios. A FAB
desempenhou um papel “teoricamente” secundário, mas que dentro
do contexto do exercício e numa Hipótese de Emprego conjunta com as
Forças norte-americanas lhe seria o mais adequado. Os conhecimentos
adquiridos na Red Flag foram postos em prática já em outubro na
referida edição da Cruzex, esses conhecimentos se traduzem
principalmente na forma de atuação de uma unidade Agressora (Força
Vermelha) e no formato de C² que o exercício adquiriu. Nessa edição
também os dados sobre abates ou quem venceu a simulação não
foram mais divulgados, já que o formato que o exercício tomou foi o
de C². Segundo algumas más línguas as causas foram possíveis
constrangimentos ocasionados pela divulgação de certos resultados.
Verdade ou não, a não divulgação de resultados não impediu que
algumas informações chegassem aos jornalistas que cobriram o
exercício. Essa edição foi também uma das mais elogiadas, senão
a mais bem elogiada, pelos jornalistas especializados. A partir dessa
edição uma realidade começou a bater forte a porta. Os altos
custos de um exercício como a Cruzex. A delegação Argentina não
mais compareceu com aeronaves devido aos custos com pessoal e
combustível. Na FAB as restrições orçamentárias geradas pelo
alto custo da previdência e assistência social das Força Armadas,
seguidas de sucessivos contingenciamentos e envelhecimento
conjuntural da frota começaram a cobrar seus preços. A quinta
edição, Natal
(2010),
foi foco de ampla cobertura pelo Poder Aéreo, apesar das
dificuldades técnicas enfrentadas. Foi a primeira edição com a
cobertura do Poder Aéreo e um dos ponta pés para a edição da
Revista Forças de Defesa. Foi em 2010 que os EUA passaram a atuar
com aeronaves. A França trouxe os seus Rafales e a maior
participação de observadores militares de outras Forças Aéreas
abrilhantaram o maior exercício do gênero na América Latina. Cabe
ressaltar ainda que foi a primeira participação da Marinha do
Brasil com aeronaves, no caso, UH-14 (Super Puma). Já a sexta
edição, Natal
(2012),
foi inteiramente no formato de Comando e Controle (C²), ou seja,
nada de aeronaves. Nessa edição o Poder Aéreo também esteve
presente e por uma decisão técnico-editorial a cobertura foi mais
discreta, mas conseguimos que a direção do exercício na pessoa do
brigadeiro Egito, por intermédio do CECOMSAER, respondesse
alguns questionamentos sobre a referida edição.
A ausência de aeronaves não impediu a continuidade do treinamento.
Ao contrário, a nova sistemática adotada permitiu que novos
elementos fossem introduzidos, aumentando significativamente a
complexidade do exercício. O componente aeroespacial esteve presente
de forma especial com a inclusão simulada de uma constelação de
satélites e de aeronaves remotamente pilotadas. Nessa edição
ocorreu inclusive ataques simulados de armas químicas e nucleares.
Contando com 13 países participantes, sem incluir no número os
observadores, a Cruzex C² 2012 teve o maior número de países
participantes. Na
tarde da última quarta-feira, dia 21/08, oficiais da FAB estiveram
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte para realizar uma
exposição sobre o exercício Cruzex Flight 2013 e iniciar o
processo de seleção de estagiários dos cursos de Comunicação
Social – Jornalismo e Letras – Língua Inglesa que irão auxiliar
os militares da FAB e das Forças Aéreas convidadas. O Poder Aéreo
por meio do seu colaborador em Natal-RN, Ícaro Luiz Gomes, entrou de
“penetra” na exposição para trazer algumas informações já
confirmadas aos seus leitores. O Major-Aviador Rodrigo Canas e o
Tenente-Jornalista Humberto Leite realizaram uma apresentação de
slides que durou cerca de 20 minutos e a exibição de três vídeos
institucionais sobre a Cruzex e a Ágata 7. Um dos ganhos secundários
da realização da Cruzex é a inter-relação do meio acadêmico e
militar por meio dos estagiários recrutados nas universidades que
auxiliam os militares na execução dos exercícios. A
previsão é que o exercício ocorra entre os dias 4 de novembro e 15
de novembro. O evento “portões abertos”, quando o público em
geral poderá ver um pouco dos aviões envolvidos no exercício, está
previsto para o dia 09 de novembro. O exercício esse ano trará
aproximadamente 100 aeronaves, das quais cerca de 85 delas estarão
sediadas em Natal-RN. Os países com participação já confirmadas
são: Brasil (sede), EUA, Argentina, Chile, Venezuela, Uruguai,
Equador, Canadá e Colômbia. A França, um dos países fundadores do
exercício não confirmou sua presença com aeronaves. O impacto de
uma operação militar apresenta uma importância mister tanto
para o país como para a economia da cidade-sede. São pelo menos um
milhar de indivíduos que necessitam de serviços de hotelaria,
restaurante, transporte e de souvenir, deixando capital na
cidade-sede e movimentando a economia numa época considerada de
baixa-temporada. Os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos
permitiram a FAB entrar em contato direto com o estado-da-arte dos
processos de tomada de decisão (padrão OTAN de C²) e táticas de
combate, refletindo diretamente nos processos de aquisição e
modernização de equipamentos, assim como no planejamento e execução
de operações singulares, conjuntas, combinadas ou multinacionais,
por exemplo: Ágata. O tamanho e a qualidade na troca de experiências
da Cruzex permite classifica-la com um dos mais importantes
exercícios multinacionais, e o mais importante no contexto da
América Latina. Essa importância atrai a cada nova edição mais
países participantes/observadores que consigo trazem a mídia
especializada, ou não, dos referidos países. A trocas culturais
também são um bônus para os participantes, seja no contato com a
culinária local, conversas sobre experiências de vida ou mesmo
simples troca de informações sobre a localização de determinado
setor proporcionam o desenvolvimento do pessoal envolvido.
COM
INFORMAÇÕES DA FAB.
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